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sexta-feira, 23 de abril de 2010

E descobrir suas riquezas em meu coração

Ao mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus no contínuo “eu quero!” que mantém nossa vontade escrava da Dele, mergulhamos no próprio mistério da inabitação de Deus (Deus habita em mim!) e da correspondência à graça santificante. São novamente quatro movimentos essenciais da alma que ora: 1. a adesão da vontade; 2. o mergulho nas profundezas do Espírito de Amor ; 3. a descoberta da Sua Riqueza (o amor!); 4. a constatação de que Ele e suas riquezas estão disponíveis, pela graça santificante, em meu coração.

Santa Teresa nos fala freqüentemente da ida ao poço, do esforço para pegar água (quando ela é encontrada!) e regar nosso pobre jardim. É o “eu quero”. Fala-nos também do Jardineiro que demonstra o Seu amor por mim ao se revelar neste jardim e providenciar com sua presença nosso demonstra o Seu amor por mim ao se revelar neste jardim e providenciar com sua presença nosso mergulho nas águas vivas do seu Ser. É o longo, rico e profundo mergulho no Espírito. Fala-nos, adiante, como a alma passa a viver como que fora de si e como constata nascerem nela as virtudes que expressam a caridade fraterna. São as riquezas que transbordam do único bem.

É doce, muito doce, a presença do Amado. Porém, nossas mãos devem estar feridas, como as Dele, para recebê-lo, para percebê-lo. Não recebe o Senhor quem tem as mãos molhadas de mirra que lhe escorrem pelos dedos (Cant 5,5). Não encontram o Senhor mãos cheias de fantasias de oração a lhe escorrerem pelos dedos como líquido ralo que nada sustém. São mãos feridas pela renúncia contínua aquelas que encontram as Mãos feridas pela Renúncia Suprema. A riqueza do Espírito que a alma encontra e reconhece em si mesma é a riqueza da renúncia. É, em outras palavras, a pobreza de quem ama sendo o terceiro. Isto é importante: as riquezas do Espírito são as riquezas do amor e a única e verdadeira riqueza do amor é a renúncia de si para a posse do Amado.

Bendita renúncia implícita no amor! Bendita renúncia que nos fere as mãos, que nos deixa a “pele morena” por que temos acampado não em nosso próprio conforto, mas como nômades nas tendas de Cedar. Bendita renúncia que nos leva a “não guardar” nossa “própria vinha”, mas a nos sujeitarmos às queimaduras do sol para guardarmos vinhas de irmãos que “se irritaram contra” nós (cf Cant 1,5-6).

No Batismo, recebemos a graça santificante e participamos da natureza de Deus. “Mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus e descobrir Suas riquezas em nosso coração” é nos deixarmos contaminar mais e mais por esta graça que leva à santidade pelo amor concreto aos irmãos. Orar nas profundezas do Espírito de Deus é encher-se do Amor da Trindade para viver Nele e Dele de maneira concreta, cheia da alegria da renúncia. Oro para amar! Oro para amar! Oro para amar!
Se eu não quero amar, para que oro? Se continuo a orar todos os dias mas não cresço no amor a Deus e ao meu irmão, a quem oro? Em quais “profundezas” mergulho? De quem são as “riquezas” que descubro?

Sim! Oro por amor e porque quero amar! Oro para amar, para nada mais! A grande e única ação da graça santificante em uma alma é levá-la a amar. Mergulhar nas profundezas do Espírito e descobrir as Suas riquezas em meu coração é, essencialmente, descobrir esta verdade que tem norteado a vida de santos de todos os séculos.

Ao mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus tomo consciência da minha participação na natureza do próprio Deus. Assim, participarei da natureza divina com a medida que Sua Misericórdia me deu participar à medida em que, pela oração, minha vontade vai dizendo sim à Sua vontade e “a vontade do Pai é esta: que vos ameis uns aos outros”; “O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 17).

S. Tomás de Aquino afirma sobre a natureza de Deus: “Deus é amor em Ato” (Suma Teol.). No mergulho da oração profunda, na consciência de participar de Sua natureza não com um pequeno pedacinho que me permite minha acomodação, mas na plenitude do quinhão que Ele me reservou, descubro que participar da natureza do Amor não pode ser outra coisa senão amar, amar, amar. Deus, a plenitude de todo o bem, é o próprio amor em ato. Eu, em minha miséria, posso apenas praticar atos de amor. Deus, plenitude do Amor, fez, em Jesus, a plenitude da Renúncia. Eu, nada que sou, posso apenas fazer, por amor a Jesus, atos contínuos de renúncia que me assemelhem mais Àquele cuja natureza me foi comunicada por pura misericórdia.

Mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus é mergulhar no Amor, que é a própria natureza de Deus. Descobrir as riquezas do Espírito em meu coração é viver em plenitude a graça santificante e a participação da natureza divina pela renúncia de amor.

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