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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Eu quero

Eu quero! Este é o primeiro passo para a vida de oração. Não um primeiro passo que se dá uma vez e não se precisa dar mais. É um passo diário, contínuo, de segundo a segundo. É uma decisão profunda da vontade: “Sim! Digo sim ao convite de Deus que me chamou primeiro e que realiza a oração em mim. Digo sim ao convite de Deus através de minha vocação fundamentada na oração profunda. Digo sim agora, no “tempo compreendido na palavra hoje” (Hb). O meu “quero” é resposta de amor a Deus. Eu quero! “Sim, Pai, não é fácil, mas eu desejo, eu quero, eu vou.” (RVS p.30)

Na verdade, a profundidade de nossa vida de oração está intimamente relacionada com este “quero!” contínuo. Quanto mais a nossa vontade diz “sim” à oração nas suas consolações e desolações, nos momentos de motivação ou de falta de vontade, mais nossa oração tende a aprofundar-se.

Sabemos que, como ensina Sta. Teresa, as consolações são dadas por Deus para nos sustentar nos momentos onde estamos fracos e necessitados. Devemos recebê-las com humildade e gratidão pela “ajuda” de Deus. Do mesmo modo, devemos receber as dificuldades e desolações, pois são estes os grandes prêmios, a grande prova de que estamos seguindo o impulso do “quero” dito por Deus e do “quero” respondido por nós.

O “eu quero!” contínuo dado na vida de oração não pode ser um “quero” romântico, suspirado, fantasioso. Este tipo de “quero” é ainda muito fraquinho, muito inicial, muito centrado em mim mesmo, nas fantasias espirituais que desejo alimentar, no falso alimento que vem de minha imaginação. O “quero romântico e fantasioso caracteriza-se pela busca das consolações, pela imaginação que nos garante sermos já santos e bem caminhados na via da oração. Este quero fantasioso nos mantém na superficialidade da vida de oração, se é que podemos chamá-la assim, pois é como um flutuador que nos mantém à superfície do imenso mar do amor de Deus e nos obriga a ficar à mercê das primeiras e pequeninas ondas que quebram na beira.

A característica deste tipo de “quero” é a instabilidade na vida concreta. Instabilidade no humor, na disposição para servir a Deus, na disposição a servir os irmãos. Outra característica é um certo individualismo, uma tendência a ver os acontecimentos e as atitudes dos irmãos segundo o grau de santidade que julgo ter alcançado. Uma terceira característica são os conflitos interiores que, repentinamente, me tiram a paz ou, ainda, acontecimentos exteriores (através de fatos ou palavras de irmãos) que me tiram a paz da alma.

A superficialidade na vida de oração me deixa, de fato, tão instável quanto uma criança de pouco peso que flutua nas pequenas ondas na beira da praia. Como tudo é visto com relação a ela (que, em sua imaturidade, se considera o referencial de todo aquele mar) tudo a desestabiliza concretamente, muito embora, no “momento” da oração pessoal as coisas pareçam ir “muito bem”. Afinal, sempre há moções, visões, profecias, palavras de sabedoria...
A oração baseada no “eu quero!” profundo, passa a ser oração profunda, que nos faz...

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